Norberto Alves, no sítio "Ressalto.net", faz nova abordagem ao EuroBaket:
" Final da 1ª fase do Eurobasket. Surpresas: o apuramento da Finlândia e da Macedónia. Já em crónica anterior falei do excelente jogo colectivo da Finlândia. Este apuramento deve-se muito a esse aspecto: como se viu uma equipa com menos argumentos individuais pode ter sucesso quando a sua qualidade colectiva é superior à soma da qualidade individual dos seus jogadores. Itália e Croácia foram o polo oposto desta realidade e ficaram pelo caminho. Como costumava dizer aos jogadores da equipa da Académica que treinei nos últimos anos: ”quando os outros têm melhores jogadores jogar em equipa não é uma preferência mas sim uma necessidade”. E várias vezes fomos a Finlândia do nosso campeonato nacional, graças ao esforço, colectivismo e disciplina táctica dos jogadores que treinámos.
Por falar em disciplina, falar da selecção Portuguesa. Olhando para os jornais de hoje, após o último jogo com a Lituânia, todos salientaram que Portugal não ganhou nenhum jogo. Mas na minha opinião, foi das equipas mais disciplinadas tacticamente que jogaram este Europeu. Não tínhamos outra alternativa face ao valor dos nossos adversários: era uma necessidade. Gosto de dizer que disciplina táctica é fazer aquilo que se está à espera que se faça no momento que em que o temos que fazer. Como qualquer tipo de disciplina. E a selecção portuguesa fê-lo. Procurou colocar os jogos ao ritmo baixo que lhe convinha, com brio e olhando olhos nos olhos os fortes adversários que enfrentou. Jogou nos seus limites de esforço e dedicação colectiva. Agora, espero que não aconteça o que normalmente se faz no nosso país perante estes resultados desportivos: que se dispare em todas as direcções não percebendo e analisando minimamente o nível deste europeu.
Um dos aspectos a ser analisado e discutido, é o uso de jogadores naturalizados que aqui na nossa terra tantos criticam mas que muitas das equipas neste europeu utilizam. Podemos discordar de um Ibaka, Omar Cook, McCalebb, Lee, etc, etc, jogarem por Espanha, Montenegro, Macedónia ou Finlândia. Mas não podemos fechar os olhos à sua importância e à realidade actual das outras selecções. Não podemos é esperar que os jogadores tenham 34 anos para o fazer em Portugal.
Fazer melhor é possível mas passa por todos os agentes da modalidade, não apenas os que estiveram na Lituânia. Passa por um dia-a-dia e anos de trabalho sério se quisermos voltar a competir a este nível e ganhar jogos. Passa por os clubes com maiores capacidades e que se apuram desportivamente voltarem às competições europeias dando experiência internacional aos jogadores e passa por uma partilha de conhecimentos e experiências competitivas, assumindo todos com humildade a necessidade de os adquirir.
Comecei a crónica com o título “Desconto de tempo”. Como sabem, o desconto de tempo pedido durante um jogo de basquetebol de competição, serve para se conseguir ganhar - alterando, relembrando ou ajustando qualquer coisa. Na minha opinião, quando se está a ganhar por 27 a breves momentos do fim, não se pedem descontos de tempo como o fez Kestutis Kemzura (treinador da Lituânia), não respeitando assim a equipa portuguesa e o seu treinador que já nada podiam fazer. Se no Jogo anterior ao nosso com Espanha, o treinador da Lituânia estivesse a perder no fim pela mesma diferença que estava ao intervalo (24 pontos), não teria gostado que Scariolo (treinador de Espanha) pedisse um desconto de tempo perante os adeptos lituanos. Então, também perante os seus adeptos, deve respeitar a equipa portuguesa, o seu esforço e o jogo de basquetebol, não seguindo o exemplo de uma equipa de arbitragem, que assinalou 2 faltas técnicas inexplicáveis no início da 2ª parte (com o jogo equilibrado), não mostrando estar ao nível ou ter nível para ali estar.
Por falar de ”ter nível”, uma palavra de elogio para o Fernando Sousa que treinei durante vários anos e que é o capitão da Académica. Enfermeiro de profissão (licenciou-se ainda em Gestão), o Fernando abdicou das suas férias em prol do orgulho e da honra de representar Portugal. Isto, depois de um ano em que trabalha todo o dia no instituto de oncologia e treina à noite. A sua presença neste europeu com tantos jogadores da NBA parece anacrónica face à profissionalização do jogo.
Perante este exemplo, como se explicará “ter nível” na situação desta semana que envolveu no futebol o Ricardo Carvalho? Não sei. Apesar do Mourinho já se ter pronunciado no passado sobre o Q.I. das personagens envolvidas…"